sábado, 5 de dezembro de 2015

Colecionando as marcas da cidade

Luiz Artur Ferraretto

Não tenho a menor ideia de quem tenha se dedicado a colecionar estas etiquetas, agrupando-as por cor em um álbum de fotografias. A impressão, pelas empresas, é de que foi algo iniciado pelo menos nos anos 1980: Bromberg, Casa Lyra, Dosul, Livraria do Globo, Neugebauer, Olvebra, Saci, Saco & Cuecão, Transbrasil, Varig... Trocou de dono, dia desses, em um antiquário. E não há imagem que transmita o encantamento de estar com este álbum em mãos.





sábado, 21 de novembro de 2015

Tarzan e as tardes da infância na década de 1970

Luiz Artur Ferraretto



Não sou propriamente um fã de Tarzan, mas, obviamente, o homem-macaco fez parte do meu imaginário infanto-juvenil. Meu e de quem se criou nos anos 1970. Oportunidades não faltavam para que Tarzan estivesse presente na vida da gente.
A primeira referência deve ter vindo dos velhos filmes com Johnny Weissmuller repetidos à exaustão na Sessão das Duas, a antecessora da Sessão da Tarde transmitida de segunda a sexta pela então TV Gaúcha. A mesma emissora passava a série estrelada por Ron Elly. A título de curiosidade, esta última aproveitava o grito original criado por Weissmuller.





Talvez, mais do que o personagem em si, eu gostasse mesmo era da sátira a ele representada pelo impagável "George, o rei da floresta", desenho animado de 1967, que a TV Difusora, de Porto Alegre, incluiu em sua programação ali por 1973 ou 1974.


Na mesma época, brinquei muito com um lançamento da Gulliver dentro de sua série dedicada à África. Tá certo que o meu bonequinho do Tarzan, visto hoje, parece ter lutado contra Tantor, o elefante, e Numa, o leão, juntos. E levado a pior. O de Jane, mais caseira, está um pouco melhor conservado. Já o da macaca Chita perdeu-se por aí. A mascote deve ter enchido o saco pelo meu descaso com ela ao longo dos anos e saiu se balançando em algum cipó.


Ainda havia, obviamente, os livros. Eu, da obra de Edgar Rice Burroughs, sempre preferi as tramas mais improváveis como as aventuras de personagens como John Carter, em Marte, ou Carson, no planeta Vênus, fora as de Korak, o filho do herói. As estórias de Tarzan que me atraem até hoje vão na mesma linha: um encontro com soldados da época do Império Romano ou um crossover com a Pellucidar das entranhas da Terra, tema de outros livros do autor. Li, no entanto, dezenas de gibis, publicados pela Editora Brasil-América (Ebal) naqueles tempos mais ingênuos.





Eu, como muitos guris daqueles tempos, gostaria muito de ter me pendurado em um cipó, indo rapidamente de um lado ao outro da selva africana, parando em alguma árvore para dar um grito de Tarzan. Adoraria ter tido uma macaca como a Chita, mas preferiria mesmo, nas minhas trapalhadas, a companhia do Garila, o inseparável amigo de George, o outro rei da floresta.

sábado, 14 de novembro de 2015

Um hino para nunca esquecer a luta contra os tiranos

Elisa Kopplin Ferraretto
Luiz Artur Ferraretto

Não há hino mais emblemático da luta pela igualdade, fraternidade e liberdade. Seja em 1789, 1941 ou 2015. Ontem e hoje, a França e La Marseillaise estão no imaginário da revolta contra a tirania. Na queda da Bastilha ou até nas ruas de Argel, com árabes conquistando na marra a sua liberdade contra a própria França. É um canto que se levanta contra um ato fascista em um boteco classudo em Casablanca ou na saída do Stade de France. Nós não somos o Charlie Hebdo ou a França. Nós somos o que este hino representa. Contra o terrorismo e a favor das esperanças no melhor que o ser humano possa gerar.




Para que cantemos juntos com o povo francês ou com qualquer povo que aspire por "igualdade, fraternidade e liberdade".

"Allons enfants de la Patrie
Le jour de gloire est arrivé
Contre nous de la tyrannie
L'étendard sanglant est levé
L'étendard sanglant est levé

Entendez vous dans les campagnes
Mugir ces féroces soldats
Ils viennent jusque dans vos bras
Egorger vos fils, vos compagnes

Aux armes citoyens!
Formez vos bataillons!
Marchons, marchons
Qu'un sang impur abreuve nos sillons

Amour sacré de la Patrie
Conduis, soutiens nos bras vengeurs!
Liberté, Liberté chérie!
Combats avec tes défenseurs
Combats avec tes défenseurs

Sous nos drapeaux, que la victoire
Accoure à tes mâles accents
Que tes ennemis expirant
Voient ton triomphe et notre gloire!

Aux armes citoyens!
Formez vos bataillons!
Marchons, marchons
Qu'un sang impur abreuve nos sillons

Nous entrerons dans la carrière
Quand nos aînés n'y seront plus
Nous y trouverons leur poussière
Et les traces de leurs vertus
Et les traces de leurs vertus

Bien moins jaloux de leur survivre
Que de partager leur cercueil
Nous aurons le sublime orgueil
De les venger ou de les suivre!

Aux armes citoyens!
Formez vos bataillons!
Marchons, marchons
Qu'un sang impur abreuve nos sillons"
Nossa homenagem às vítimas de uma sexta-feira que não irá deixar saudades.

domingo, 8 de novembro de 2015

Ruben Val, tango e parrilla no Mercado del Puerto, de Porto Alegre

Luiz Artur Ferraretto

A ideia era reproduzir o ambiente do Mercado del Puerto, de Montevidéu, em Porto Alegre. E os proprietários, o pessoal da parrilla e a equipe de garçons conseguiam. De quebra, o uruguaio Rubén Val cantava tangos, acompanhado por uma base instrumental gravada. Do prédio às margens do Rio da Prata, na capital do Uruguai, emprestava o nome. Ficava na Cairu com Benjamin Constant e, para a Elisa e eu, moradores de Canoas, era de fácil acesso. O Edson, que cuidava do estacionamento, correndo de um lado para o outro, sempre arrumava um lugarzinho para o nosso fusca ano 1975, azul marinho, e, mais tarde, para o Fiesta, vermelho Ferrari, primeiro zero quilômetro comprado por nós.


Os garçons, as garçonetes ou o dono tinham a sinceridade de dizer: "Hoje, não recomendo o assado" ou "Hoje, o assado está perfeito".
Fora as memórias, sobrou pouco do Mercado del Puerto, de vários salões, sufocado por obras intermináveis no entorno. Em um deles, uma noite, ouvimos a rainha do rádio gaúcho Maria Helena Andrade e o flautista Plauto Cruz. Um show. Anos depois, descobrimos que Rubén Val tinha sido figura mítica na Porto Alegre dos anos 1970 com suas casas noturnas de bons vinhos, tangos e comida a não decepcionar ninguém. Dele, guardei um "Top Cultura", programa gravado, em outubro de 1997, pelo Pedro Perurena, meu aluno na época e frequentador do Mercado del Puerto. É uma recordação também do antigo Telecentro da Universidade Luterana do Brasil e do circuito interno de televisão, que alimentávamos com a produção dos alunos da Oficina de TV ligada ao curso de Comunicação Social. Um trechinho, então, do Rubén Val cantando "Caminito":


Assistindo ao vídeo e olhando estas fotografias achadas na internet, dá até para sentir um gostinho dos "asados" e dos "postres" daqueles almoços, jantares e ceias.

 

sábado, 31 de outubro de 2015

A Wikipedia de outros tempos

Luiz Artur Ferraretto

Já ouvi muitas vezes que a Wikipedia é uma espécie de "Encyclopédie, ou dictionnaire raisonné des sciences, des arts et des métiers", aquela, a de D'Alembert e de Diderot. Pela imprecisão e pela disseminação, meio senso comum, do conhecimento proporcionadas por este serviço, no entanto, a Wikipedia me lembra mais os velhos almanaques. E estes, me parece, eram bem mais simpáticos. Vejam só, por exemplo, as curiosidades oferecidas pela edição de 1958 do "Almanaque Eu sei tudo", várias delas citadas na capa.



Onde você iria achar coisas tão úteis como textos sobre as principais medalhas brasileiras ou a respeito de ex-libris? 




Ah, você não sabe o que é um ex-libris... Bom, vai, então, dar uma olhada na Wikipedia. Já a palavra "almanaque" nem precisa procurar. Embora, no imaginário popular, remeta àquelas publicações distribuídas em farmácias, como esta aqui de baixo, trata-se de uma coleção de informações.



A ideia de almanaque associa-se, por tradição, à de brinde, algo a ser ofertado ao cliente, em geral, no final de ano, contendo no seu interior informações relacionadas aos meses, às estações etc. Algumas destas publicações, ao contrário, tornavam-se tão atrativas que eram comercializadas, como esta da Bertrand, uma das mais importantes editoras em língua portuguesa do mundo.


Mas, para ir ao encontro do início deste texto, interessam mesmo são os deste tipo, aqueles que se propunham a ser uma espécie de enciclopédia compacta.




Com toda a tecnologia disponível, tanto os almanaquinhos de balcão de farmácia quanto os almanacões enciclopédicos seguem existindo. São formas populares de consulta. Sem conexões em código binário e parafernálias eletrônicas.

domingo, 25 de outubro de 2015

Depois da escola, uma criança na Grande Porto Alegre dos anos 70

Elisa Kopplin Ferraretto

Cheguei em casa, tirei o eslaque e a japona do uniforme do colégio. Choveu um pouco durante o dia e, como não fui de galocha, as congas estavam molhadas; então coloquei-as atrás da geladeira pra secar, pensando: "Não posso esquecer de, mais tarde, esfregar giz nelas, para ficarem branquinhas de novo".



Fui tomar banho e, como fazia frio, coloquei álcool em uma frigideira e taquei fogo pra aquecer o banheiro. Lavei meu cabelo com xampu Silhueta e passei bastante creme rinse Colorama, aquele do “vocês se lembram da minha voz?”. Junto com o sabonete Alma de Flores e o desodorante Cashmere Bouquet, que cheirinho bom!





Botei uma brim coringa, um pulôver e o guidis e fui assistir o "Sítio do Pica-pau Amarelo". Adoro essa história do anjinho que repete: "Quero voltar pro céu... Saudade!!!".


Depois, para aproveitar o solzinho que apareceu no final de tarde, fui para o pátio brincar um pouco. Estava com uma fominha, pena que não era época de amoras pra subir no pé e sair de lá com a barriga estourando e as mãos roxas. Mas ouvi um barulhinho... Tac-tac-tac... O homem da casquinha!!! "Mãe, posso comprar uma?" "Não, guria, daqui a pouco é hora da janta! Mas te faço uma batida de banana. Aliás, vai esperar o leiteiro".
Fui. A carroça estava mesmo chegando, o leiteiro despejou dois litros de leite de nossa jarra verde, que botei na geladeira. Dali a umas horas, uma camada de nata estaria formada por cima do leite, e todos os dias era tarefa minha retirá-la para mais tarde comermos no pão, com chimia de uva. A mãe deixou eu ficar com as moedas do troco, que coloquei no meu cofrinho da Fin-Hab. Estou juntando para comprar uma Suse noiva. Quem não quer ter uma???


As crianças da vizinhança foram aparecendo e brincamos de cabra-cega e polícia-ladrão. Uma guria preferia fita ou passar anel, mas os guris não toparam. Amanhã, prometeram, a gente brinca de ovo podre (“Tá fedendo!”).
À noite, depois de jantar e lavar a louça, assisti o “”Planeta dos Homens” com minha família. Múmia paralítica, o macaco tá certo, não me comprometa, não precisa explicar – eu só queria entender, tem pai que é cego, cala-te boca, amancebou-se... Que sarro eram aqueles bordões!!!
E depois era hora de criança dormir. Exceto nos sábados, quando me deixavam ver “Primeira Exibição”, “Sessão de Gala” e até “Sessão Coruja”!!!


Se você não reconheceu algumas palavras e marcas ou não entendeu situações narradas nesse textinho, não se preocupe. Talvez ele seja mesmo indecifrável para quem nem tinha nascido nos anos 1970. Mas quem teve sua infância nessa década certamente voltou um pouquinho no tempo.

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Eu, a Madame Min, a Bruxa Má e uma sacerdotisa vulcana

Luiz Artur Ferraretto

Tive o privilégio de conhecê-las em uma tarde carioca de setembro de 1998. No entanto, ao sair daquele edifício no centro do Rio, eu não sabia disso. Havia passado umas duas ou três horas com a Madame Min, de "A Espada era a Lei"; com a Bruxa Má, de "Branca de Neve e os Sete Anões"; e com uma sacerdotisa vulcana, de "Jornada nas Estrelas". E eu pensando que entrevistara uma das pioneiras do radioteatro brasileiro, atriz admirada pelo grande Chico Anysio e figura frequente de várias atrações da Rede Globo.
Esther Daniotti Borges ou Estelita Bell, seu nome artístico, era muito mais. Fazia parte da minha infância e da de milhares de crianças dos anos 1960, 1970 e 1980. A fundadora do "Teatro Farroupilha", primeiro programa do gênero no rádio do Rio Grande do Sul, me pareceu uma daquelas pessoas energéticas. Viúva do ator e diretor Pery Borges, emocionou-se várias vezes ao lembrar do marido e do carinho dos fãs dos tempos da PRF-9 - Rádio Difusora Porto-alegrense, onde começaram a carreira, e da PRH-2 - Rádio Sociedade Farroupilha, na qual atraiam enormes audiências a cada noite de domingo com aquele teatro cego, como se dizia então.
Dona Estelita tinha algo da imagem que sempre atribui à Madame Min, mais uma tia querida algo extravagante do que uma pessoa malvada.



Essa outra sequência de "A Espada era a Lei", a do duelo de magia, sempre foi a minha favorita. Depois de conhecer a pessoa por trás da voz, passei a torcer ainda mais pela Madame Min contra o Mago Merlin.




Já a Bruxa Má me apavorava em "Branca de Neve e os Sete Anões".


Agora, para quem, como eu, na adolescência, queria ser o Sr. Spock, é o máximo saber que passou uma tarde com uma sacerdotisa do planeta Vulcano, pelo menos com a voz dela.


 

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Eternas matinês (2) - Que criança dos anos 70 não quis ser herdeira de Willy Wonka?

Elisa Kopplin Ferraretto


Volta e meia, na década de 1970, uma Sessão da Tarde da vida reprisava o filme "A Fantástica Fábrica de Chocolate". E a gente assistia de novo e de novo, sabendo de cor cada musiquinha e até mesmo as falas dos personagens.
Veruca, Augustus, Violet, Mike e Charlie eram crianças de sorte. Acharam os cinco cupons dourados escondidos nas barras de chocolate Wonka, o que lhes deu o direito de visitarem a misteriosa fábrica do excêntrico Willy Wonka.


Lá, viram rios e cascatas de chocolate, cogumelos de açúcar, inventos espetaculares, máquinas fabulosas...ah, e os Umpa Lumpas, homenzinhos com penteados esquisitos e sobrancelhas brancas, responsáveis pela produção do chocolate mais delicioso do mundo.




Um a um, os garotos vão desrespeitando os avisos e proibições do sr. Wonka e sendo eliminados do grupo. Augustus, glutão, se debruça para beber direto do rio de chocolate e cai lá dentro, acabando sugado pelos dutos que o mandam para fora da fábrica. Violet rouba um chiclete que vale por uma refeição, mas ainda está em fase de teste - a sobremesa, uma torta de amora, ainda tem problemas e a menina vira um enorme amora que precisa ser levada para a sala de caldas (para espremer, como explica Wonka). Numa máquina experimental que transmite objetos para dentro da TV, Mike resolve ser o primeiro humano a passar pelo processo e e tem seu tamanho reduzido, e Wonka o manda para a sala de balas puxa-puxa, para ser esticado. A rica e mimada Veruca quer tudo para si, arma a maior bagunça e, ao subir numa balança especial, esta a identifica como um "ovo podre", despachando-a para a lixeira.
Charlie quase cai na tentação de contrabandear um novo doce para um espião lá fora, mas na última hora se arrepende. Wily Wonka, então, o escolhe como seu sucessor na direção da fábrica. Eles entram num elevador de vidro que sobe, sobe, até romper o telhado e ganhar os céus.
O que acontece a partir daí não está no filme, mas pode ser conferido no livro "Charlie e o Grande Elevador de Vidro", que Roald Dahl escreveu na sequência de "A Fantástica Fábrica de Chocolate".


sexta-feira, 2 de outubro de 2015

A minha geração

Luiz Artur Ferraretto

"Somos um bando, um bando, um bando e muitos outros." Estas palavras não saíam da minha cabeça, nem dentro do primeiro ônibus, do Teatro Renascença até o centro de Porto Alegre, nem dentro do segundo, do centro de Porto Alegre até a parada meio perdida na esquina da Santos Dumont com a Venâncio Aires, no interior de Canoas, na época, a 30 ou 40 minutos de sacode-sacode naquele Vicasão com reboque. Era como se eu tivesse encontrado a minha tribo naquela noite de 1983. Iria passar o resto do ano falando da peça "Trenaflor", a segunda do grupo Vende-se Sonhos. Ninguém, em Rio Grande, onde eu morava e cursava o terceiro ano de Eletrotécnica no Colégio Técnico Industrial, entenderia bem o que eu sentia. Para a maioria dos meus amigos, já havia sido uma loucura considerável aquele negócio de um dos CDFs da turma decidir fazer Jornalismo. E passar a estudar dobrado em função disto. Naquela noite de 1982, com meus 16 anos, eu comecei a vir morar em Porto Alegre.


A música de Bebeto Alves saiu do sistema de som do Teatro Renascença e seguiu - segue ainda - ecoando na minha cabeça. É, de certo modo, o meu "My generation" particular, sem John Entwistle, Keith Moon, Pete Townshend ou Roger Daltrey: "Just because we get around" e "Hope I die before I get old". Ecoava ainda quando eu assisti os filmes em Super-8 "Deu pra ti, anos 70" e "Inverno". Ecoava quando eu entrei, pela primeira vez, no Bristol, onde, tempos depois, revendo "Hair", me daria conta de como havia envelhecido. Estava já com 19 anos.



Antes, no entanto, precisei ultrapassar a enorme distância entre Rio Grande e Porto Alegre com um vestibular no meio. 
Já morando na capital gaúcha, depois de chegar do interior "inocente, puro e besta", como na canção do Raul, não sei se em uma sessão das dez, assisti "Verdes Anos". Foi como se a música de Bebeto Alves fosse uma espécie de base incidental da de Nei Lisboa.




Com o tempo, passadas décadas, ainda ecoando "Somos um bando, um bando e muitos outros", passei a rever com frequência outro Super-8 gaúcho, o meu favorito: "Inverno". Quando os personagens de Werner Schunemann e Luciane Adami passeiam pela cidade, aquela é a Porto Alegre na qual eu sonhava morar ao ler sobre peças, filmes e shows nos jornais "Folha da Manhã" e "Folha da Tarde". Para quem conhece o filme, explico que, hoje, vivo naquela Montevidéu sonhada pelo jornalista de 24 anos do Super-8 em seus doze dias de frio em Porto Alegre. Sigo, no entanto, procurando aquela rambla da margem de cá do Río de la Plata. E ela aparece em algum passeio pela Rua da Praia, infelizmente não mais aquela outra, a do início dos anos 1980.



sábado, 26 de setembro de 2015

Eternas matinês (1) - Jerry Lewis

Elisa Kopplin Ferraretto

Em um distante domingo à tarde, minha mãe me convidou para assistirmos, na TV, a um filme com um ator de quem ela gostava muito. Foi assim que, em meio a muitas risadas, conheci Jerry Lewis. Desde então, vi e revi muitas vezes algumas das tantas histórias ternas e divertidas que ele estrelou, principalmente aquelas que, nos anos 1970 e 1980,  repetiam a toda hora em alguma Sessão Comédia na TV.
Uma das cenas mais famosas está em “Errado pra cachorro”: a da máquina de escrever invisível. Agitando as mãos no ar,  Jerry Lewis imita os movimentos de quem está batendo à máquina de escrever – datilografa, empurra o rolo de um lado para outro,  aciona a alavanca de mudança de linha. Tudo isto, acompanhado de uma perfeita sonoplastia,  cria a ilusão de que ali realmente existe uma máquina.


Não dá para esquecer de Jerome Littlefield, o atrapalhado e hipocondríaco atendente de uma clínica em “O bagunceiro arrumadinho”. Uma das melhores cenas é aquela em que uma paciente vai exagerando seus problemas de saúde e Jerome começa a sentir todas as dores que ela está descrevendo.


Genial também a performance de Jerry na pele de Clayton Pool, em "Bancando a ama seca".



Em "O meninão",  ele é Wilbur,  que,  disfarçado de criança, se esconde, em uma escola para moças, de uma gangue de criminosos.  Como não rir daquele homem desengonçado que bagunça uma reunião da direção da escola em uma roupinha de marinheiro? Ou da cena em que "ajuda" o professor Bob (Dean Martin) a coreografar um grupo de meninas?


Mas meu preferido é  "Artistas e modelos",  em que o sonâmbulo Eugene Fullstack sonha com as histórias de Vincent,  o Abutre.



E para fechar,  não dá para esquecer dessa cena de "Qual o caminho para guerra?".  Uma aula de alemão imperdível!!!

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Figurinha difícil (1) - O álbum da Copa de 1970

Luiz Artur Ferraretto


Colecionar álbuns de figurinha era um dos passatempos de quem, como eu ou o meu irmão, cresceu na segunda metade do século 20. Na época, a gente comprava os envelopes aos poucos, aproveitando alguma sobra de dinheiro destinado à merenda ou para alguma ida ao cinema. Por uma espécie de tradição familiar, em 1970, como minhas tias haviam feito com ele, o Dena foi colecionando este álbum para nós dois. É o da Copa do Mundo daquele ano, a do México, a do tricampeonato ganho pelo Brasil. Eu tinha quatro anos e lembro apenas da minha família correndo até a frente da casa, na rua Francisco Marques, em Rio Grande, a cada gol da seleção.
No verso da capa do álbum, com letra cuidada e com o mesmo esmero dedicado a colar as figurinhas apenas pela parte de cima, meu irmão anotou resultado a resultado, não esquecendo de indicar os nomes dos donos do álbum e que o Brasil sagrava-se tricampeão.


Este negócio de colar a figurinha pela parte de cima era uma herança dos tempos em que se usava grude, embora, em 1970, um comercial de televisão já anunciasse: "Cole com Tenaz e descole se for capaz".


Quem foi guria ou guri nestes tempos também vai recordar a enorme dificuldade para se completar um álbum de figurinhas, ainda mais no caso dos que, como o Dena e eu, moravam bem longe dos principais centros urbanos do país. Era frequente solicitar os cromos faltantes e nunca recebê-los. De fato, a gente nem tentava fazer isto. Dependia da troca de figurinhas com amigos e colegas. Na impossibilidade total de completar um álbum, recorria-se a pequenos "dribles" como colar cromos repetidos, fingindo fechar algumas páginas.



Para a gente, importava mesmo o divertimento em si. E, no caso do álbum e da Copa de 1970, o tri brasileiro. Afinal, pelo menos, as páginas da seleção campeã estavam completas, embora se comentasse que a do Pelé era a figurinha mais difícil do álbum.



sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Um robô pra chamar de meu (1)

Elisa Kopplin Ferraretto


Muita gente que foi criança nos anos 1960 e 1970 alimentava um desejo secreto: ter  um robô como seu melhor amigo. Igualzinho ao Will Robinson da série "Perdidos no Espaço", com o modelo B9, conhecido simplesmente como Robô. Inteligente, divertido, sensível às vezes, sarcástico em outras, quase humano. Mas com uma força e um arsenal de truques que nenhuma pessoa poderia oferecer.
Naquela época, a gente fazia folia na rua sem medo de assaltante nem de traficante. Mas,  na nossa imaginação,  sempre havia o risco de, enquanto se brincava de roda,  de pegar,  de esconder,  de passar anel,  de fita etc.,  surgir um alienígena horrendo,  um monstro de oito olhos,  um gigante ou  horror dos horrores!  o Homem do Saco,  pronto a enfiar dentro daquele trapo sujo as crianças arteiras.  Então, ah, se a gente tivesse um robô para nos proteger!!!  Ele avisaria: "Perigo, perigo", de suas "mãos" sairiam raios e nós, ilesos, ficaríamos cheios de orgulho por termos um amigo tão especial... Sonho nunca concretizado,  mas sempre lembrado pela  miniatura que nos espia das estantes...


O Robô foi criado por Robert Kinoshita. Anos antes, de sua imaginação também  saíra o Robby, do filme Planeta Proibido.  Na foto,  o velhinho (que morreu em janeiro deste ano,  aos 100 anos) com nossos dois amigos inesquecíveis.


Faz um tempo enorme que não sou mais criança,  mas,  como não se confirmaram as previsões do passado,  de que no longínquo ano 2000 todos teriam seu robô pessoal, eu sigo sonhando com o meu. Afinal,  amigos de verdade são cada vez mais raros,  e uma proteção extra nestes tempos difíceis viria bem.  Pena que o medo de hoje não seja mais imaginário,  não seja mais do alienígena esquisito,  do monstro de mentirinha, do Homem do Saco...

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Toca Raul! Alguns vídeos sobre o Maluco Beleza

Luiz Artur Ferraretto

A qualquer momento em algum bar, alguém vai pedir: "Toca Raul!". Aqui em casa, é ligar o aparelho de som e sempre há um momento para o Maluco Beleza. Como áudio não existe sem vídeo, aproveitamos para rever alguns DVDs produzidos por fã-clubes do Raul com clipes. Respeitosamente, em agosto de cada ano, próximo ao dia em que o maior roqueiro da história do Brasil subiu para outro firmamento, assistimos a estes trechos de telejornais gravados em velhas fitas VHS que, com o tempo, fomos digitalizando. Do dia 21 de agosto, as reportagens dos programas "Cidade 5", do SBT de Porto Alegre; "TJ Brasil", do SBT em rede nacional; e do "Jornal Nacional", da Globo.



 
Do dia seguinte ao falecimento do Raul, a cobertura do "Jornal da Band" e do "Jornal Nacional".

 


E uma observação importante: não pretendemos, com a divulgação destes vídeos, todos gravados há duas décadas, desrespeitar direitos autorais. Estão aqui apenas como uma homenagem a Raul Seixas e a todos nós, os seus fãs.

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Compactos: em pouco espaço, muitas lembranças

Elisa Kopplin Ferraretto

Às vezes, o preço de um Long Play de vinil pesava muito no orçamento. Em outras, o que a gente queria mesmo era ter apenas uma ou duas canções extraídas do LP, aquelas que as rádios selecionavam como músicas de trabalho e tocavam até a exaustão, mas sempre era bom exaurir um pouquinho mais... Então se podia contar com os bons e velhos compactos, geralmente com uma faixa de cada lado, no máximo duas. Não tinham os belos encartes com letras que a gente encontrava nos LPs, e as capas na maioria das vezes eram apenas um envelope "furado no meio". Mas como quebravam o galho!

Esta caixinha guarda os preciosos compactos que eu e o Luiz amealhamos, separadamente, em nossas juventudes, e depois juntamos, acrescentando mais umas coisinhas que compramos, juntos, em sebões ou no Brique da Redenção.


O que tem aí dentro? De tudo um pouco. A começar pelos infantis. A coleção Disquinho, que trazia maravilhosas narrações dos desenhos e filmes da Disney. As divertidas canções do palhaço Carequinha. Ou o meu inesquecível "A formiguinha e a neve", que não sei como não gastou, de tanto que o ouvi. O que me interessava não era a moral religiosa do final, quando "Deus, que houve todas as preces" salvava a pobre formiguinha que tivera um pé soterrado na neve, mas sim o jogo de palavras e de memória até chegar lá. A protagonista ia pedindo ajuda, sucessivamente, a diferentes personagens. Primeiro ao Sol: "Ó Sol, tu que és tão forte, derrete a neve que prende o meu pezinho", mas cada um respondia que havia alguém mais forte que ele. O Sol, por exemplo: "Mais forte do que eu é o muro que me tapa". E então a formiguinha ia repetindo, somando toda a ladainha: "Ó homem, tu que és tão forte, que bates no cão que persegue o gato que come o rato que rói o muro que tapa o sol que derrete a neve, desprende meu pezinho... ". Ou algo assim, pois escrevo de memória; não quero correr o risco de ouvir o disquinho e, aos 47 anos, chorar (mais uma vez) pela sorte da pobre formiguinha...




E tinha, claro, principalmente, a música. Alguns compactos traziam seleções das "mais mais" do momento, as mais tocadas no rádio. Nacionais e internacionais.



Também tinha curiosidades como essas aí de cima: o compacto do filme "Um dia de sol", reprisadíssimo na Sessão da Tarde da então TV Gaúcha, e  o de um grupo que nunca existiu. O tal The Paris Group era fake, mas a música "Grafitti", apresentada em um comercial de TV da Levis, fez tanto sucesso que se inventou um conjunto para lançar o disco. Bah, e a música (e o comercial também) era linda, mesmo.

 

Nos festivais de MPB, a gente podia contar que iam sair compactos com as principais concorrentes.



Bom... e me desculpem os puristas, mas a gente ouvia de tudo. E assistia ao Chacrinha na TV. Então gostava de ouvir estes "sucessos".


 

Nossa coleção tem coisas de mais qualidade, também, como esse compacto raro do Geraldo Vandré, com "Pra não dizer que não falei de flores", que temos em duas capas diferentes (meio enjambradas)...



 ...ou estes do semanário "O Pasquim"...



...ou da peça de teatro "Bailei na curva".



E quase esquecia "Toca Raul" do compacto da novela "O Rebu", trilha sonora do Maluco Beleza e do mago Paulo Coelho. 


Talvez um dos primeiros compactos que ouvi, ainda bem criança, tenha sido um destes do mexicano Pedro Infante, que pertencia aos meus pais. Os outros três comprei já quando adulta, porque, confesso: adoro música mexicana. Quanto mais aiaiaiaiai, melhor.


Também da minha mãe era essa raridade da Celly Campello. Um clássico!


E onde eu ouvia esses compactos? Na maior parte do tempo, foi na minha velha eletrola amarela Philips, cuja tampa era a caixa de som, mono, é claro. Segue comigo até hoje. E a do Luiz, só que vermelha, também está conosco. Ambas funcionam perfeitamente, obrigada.


Voltando aos anos 2010... e não é que os compactos renasceram? Como este aí, do roqueiro gaúcho Wander Wildner. Que beleza! bons tempos, os de ontem, os de hoje, os de sempre!!!