Colecionar álbuns de figurinha era um dos passatempos de quem, como eu ou o meu irmão, cresceu na segunda metade do século 20. Na época, a gente comprava os envelopes aos poucos, aproveitando alguma sobra de dinheiro destinado à merenda ou para alguma ida ao cinema. Por uma espécie de tradição familiar, em 1970, como minhas tias haviam feito com ele, o Dena foi colecionando este álbum para nós dois. É o da Copa do Mundo daquele ano, a do México, a do tricampeonato ganho pelo Brasil. Eu tinha quatro anos e lembro apenas da minha família correndo até a frente da casa, na rua Francisco Marques, em Rio Grande, a cada gol da seleção.
No verso da capa do álbum, com letra cuidada e com o mesmo esmero dedicado a colar as figurinhas apenas pela parte de cima, meu irmão anotou resultado a resultado, não esquecendo de indicar os nomes dos donos do álbum e que o Brasil sagrava-se tricampeão.
Este negócio de colar a figurinha pela parte de cima era uma herança dos tempos em que se usava grude, embora, em 1970, um comercial de televisão já anunciasse: "Cole com Tenaz e descole se for capaz".
Quem foi guria ou guri nestes tempos também vai recordar a enorme dificuldade para se completar um álbum de figurinhas, ainda mais no caso dos que, como o Dena e eu, moravam bem longe dos principais centros urbanos do país. Era frequente solicitar os cromos faltantes e nunca recebê-los. De fato, a gente nem tentava fazer isto. Dependia da troca de figurinhas com amigos e colegas. Na impossibilidade total de completar um álbum, recorria-se a pequenos "dribles" como colar cromos repetidos, fingindo fechar algumas páginas.
Para a gente, importava mesmo o divertimento em si. E, no caso do álbum e da Copa de 1970, o tri brasileiro. Afinal, pelo menos, as páginas da seleção campeã estavam completas, embora se comentasse que a do Pelé era a figurinha mais difícil do álbum.
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