"Somos um bando, um bando, um bando e muitos outros." Estas palavras não saíam da minha cabeça, nem dentro do primeiro ônibus, do Teatro Renascença até o centro de Porto Alegre, nem dentro do segundo, do centro de Porto Alegre até a parada meio perdida na esquina da Santos Dumont com a Venâncio Aires, no interior de Canoas, na época, a 30 ou 40 minutos de sacode-sacode naquele Vicasão com reboque. Era como se eu tivesse encontrado a minha tribo naquela noite de 1983. Iria passar o resto do ano falando da peça "Trenaflor", a segunda do grupo Vende-se Sonhos. Ninguém, em Rio Grande, onde eu morava e cursava o terceiro ano de Eletrotécnica no Colégio Técnico Industrial, entenderia bem o que eu sentia. Para a maioria dos meus amigos, já havia sido uma loucura considerável aquele negócio de um dos CDFs da turma decidir fazer Jornalismo. E passar a estudar dobrado em função disto. Naquela noite de 1982, com meus 16 anos, eu comecei a vir morar em Porto Alegre.
A música de Bebeto Alves saiu do sistema de som do Teatro Renascença e seguiu - segue ainda - ecoando na minha cabeça. É, de certo modo, o meu "My generation" particular, sem John Entwistle, Keith Moon, Pete Townshend ou Roger Daltrey: "Just because we get around" e "Hope I die before I get old". Ecoava ainda quando eu assisti os filmes em Super-8 "Deu pra ti, anos 70" e "Inverno". Ecoava quando eu entrei, pela primeira vez, no Bristol, onde, tempos depois, revendo "Hair", me daria conta de como havia envelhecido. Estava já com 19 anos.
Antes, no entanto, precisei ultrapassar a enorme distância entre Rio Grande e Porto Alegre com um vestibular no meio.
Já morando na capital gaúcha, depois de chegar do interior "inocente, puro e besta", como na canção do Raul, não sei se em uma sessão das dez, assisti "Verdes Anos". Foi como se a música de Bebeto Alves fosse uma espécie de base incidental da de Nei Lisboa.
Com o tempo, passadas décadas, ainda ecoando "Somos um bando, um bando e muitos outros", passei a rever com frequência outro Super-8 gaúcho, o meu favorito: "Inverno". Quando os personagens de Werner Schunemann e Luciane Adami passeiam pela cidade, aquela é a Porto Alegre na qual eu sonhava morar ao ler sobre peças, filmes e shows nos jornais "Folha da Manhã" e "Folha da Tarde". Para quem conhece o filme, explico que, hoje, vivo naquela Montevidéu sonhada pelo jornalista de 24 anos do Super-8 em seus doze dias de frio em Porto Alegre. Sigo, no entanto, procurando aquela rambla da margem de cá do Río de la Plata. E ela aparece em algum passeio pela Rua da Praia, infelizmente não mais aquela outra, a do início dos anos 1980.
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