sexta-feira, 14 de agosto de 2015

O mundo cabia em uma fita cassete

Elisa Kopplin Ferraretto

Hoje a gente carrega centenas de músicas em um pen drive ou no celular. Mas houve um tempo em que a mídia mais portátil e prática que existia era a fita cassete.


A gente podia comprar as das gravadoras, oficiais. Dava para ter toda uma discografia dos artistas preferidos adquirindo as fitas "seladas", oficiais das gravadoras, que eram lançadas paralelamente aos LPs.


Mas bom mesmo era personalizar, ter fitas que ninguém tinha.
Um jeito era gravar do rádio. Foi assim que eu e minha irmã Mônica montamos nossas primeiras fitas, quando ela ganhou um gravador e toca-fitas, acho que era National. O aparelho não existe mais, mas era bem parecido com este outro, do Luiz, que ele usou até não poder mais.


A gente ligava o rádio, de preferência na Continental, colocava o gravador perto dele e ficava esperando. Quando entrava uma música legal, era só apertar o botão vermelho do REC e o do Play e ficar bem quietinha enquanto a música era gravada. Não podia tossir, espirrar ou se mexer muito na cadeira, porque todo ruído saía na gravação. Se o cachorro latisse o pátio, então, a música estava arruinada. E às vezes quem estragava tudo era o locutor, que dava o prefixo bem no meio da canção.

Também era muito divertido gravar a voz da gente. Valia tudo: contar piadas, cantar, inventar uma radionovela e, principalmente, falar muita bobagem para depois morrer de rir escutando.
Só não valia se enganar na hora de reproduzir e apertar, sem querer, junto com o Play, o tal botão vermelho, aí desgravava tudo.

A Mônica ganhou o gravador lá nos anos 1970, e foi uma revolução nas nossas criações e brincadeiras. Mas só em meados dos anos 1980 tive acesso a uma maneira muito mais "moderna" de gravar fitas com seleções musicais. Eu estava na faculdade de Jornalismo e, além do emprego fixo, fazia uns bicos como revisora de livros para várias editoras. Entreguei um trabalho grande, ganhei um troco legal (pelo menos para os meus parâmetros de então) e fui correndo para os classificados do jornal, onde achei meu sonho de consumo, que adquiri em seguida: um 3 em 1 usado.


Foi uma festa!  Além de escutar rádio, discos e fitas, podia criar meus próprios cassetes com muito mais qualidade. Nos LPs e compactos simples, selecionava as canções de que mais gostava e gravava as fitas sem nenhuma interferência de ruídos do ambiente (os vira-latas lá fora já podiam latir à vontade).
Depois, identificava tudo numa capinha feita a mão e pronto - tinha um cassete exclusivo!


Quando comecei a namorar o Luiz, em 1989, descobri que minhas capas eram simplórias. Olhem como eram as dele!!!


Nos anos 1990, quando já era difícil encontrar fitas para vender nas lojas de discos brasileiras (também elas se tornando cada dia mais raras), ainda era comum achá-las no comércio de Buenos Aires e Montevidéu. Nas nossas viagens às duas capitais, compramos algumas coisas bem interessantes, como estas da foto.


Não dá para falar em fita cassete sem lembrar de uma verdadeira maravilha tecnológica dos anos 1980: o walkman, como esse aí da foto (só uma ilustração, pois não pertencia a nenhum dos dois, os nossos se perderam no tempo).


Com ele, se escutavam as fitas em qualquer lugar: caminhando na rua, andando de ônibus, estudando... Igualzinho aos players e celulares de hoje. Ou quase: o walkman era "um pouco" maior e mais pesado. Pular de uma música para outra era uma operação lenta e incerta, apertando na tecla Forward, soltando para ver em que ponto estava, apertando de novo, soltando, acionando o Review se tinha passado do ponto... Ah! E para usar o aparelhinho durante algumas horas, era indispensável estar precavido com um bom estoque de pilhas.
Mas a gente se divertia!

2 comentários:

  1. Tô nesta!! Gravei minhas fitas para ouvir no toca-fitas do carro durante anos. Velhas seleções... E por falar em 3 em 1, tenho ainda um igualzinho ao da fotografia... É um Sony, não?? o meu funciona bem, ainda. o prato é Garrard, e os 100 wats são uma beleza! Não perde para os modernos. Boa tambem a seleçãode fitas castelhanas: anarco-revolucionária!! Ouvi muito a Violeta Parra, Merecedes, Victor Jara e Atahualpa... Viejos recuerdos...

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