sábado, 8 de agosto de 2015

Atrás da porta, a Coleção Vampiro

Elisa Kopplin Ferraretto

De uma estante encaixada num vão atrás da porta da biblioteca, Maigret, Poirot, Nero Wolfe, Ellery Queen, Perry Mason, O Santo e tantos outros ícones da literatura policial espreitam e convidam para a aventura da leitura. Eles povoam as páginas dos meus duzentos e poucos exemplares da Coleção Vampiro, garimpados ao longo dos anos nos sebos de Porto Alegre e de todas as cidades por onde passei.


Um dia, de uma viagem a Recife, o Luiz me trouxe da Brandão um exemplar velhinho, que tinha comprado por ser uma história com o detetive Hercules Poirot, de Agatha Christie, de quem eu gosto muito. Faceira como criança com brinquedo novo, peguei o livrinho, examinei-o e não acreditei: sem se dar conta, o Luiz tinha me presenteado com o número 1 da coleção!




Foi com "Poirot desvenda o passado" (nas traduções brasileiras, mais conhecido como "Os cinco porquinhos") que a Editora Livros do Brasil, de Portugal, lançou a Vampiro, em 1947, passando a entregar uma nova aventura policial a cada mês. A coleção segue existindo e, embora já não tenha o mesmo impacto nem a mesma vendagem, ainda faz a alegria de alguns leitores e de muitos colecionadores, tanto em Portugal quanto no Brasil. O formato de bolso, o preço baixo, as capas com belas ilustrações coloridas - em especial as de Cândido da Costa Pinto - e a seleção primorosa das estórias (com destaque para os detetives ou policiais com narrativas em série, como os que citei antes) foram alguns dos motivos de sucesso.



No YouTube, localizei esta reportagem de 2006 levada ao ar pela SIC, um dos canais da televisão portuguesa, e que conta um pouco da história da Vampiro.


Além do conteúdo e do visual, outra delícia de ler estes livrinhos está na linguagem. Como as edições são portuguesas, a gente sempre encontra uma expressão divertida. O inspetor Teal, antagonista do Santo, masca pastilhas elásticas (chicletes). Um personagem, não lembro de qual estória, veste um fato macaco (macacão), outro enverga seu fato (terno) e um terceiro carrega um chapéu de chuva (guarda-chuva).

Sempre que pego um novo livro velho, antes de começar a ler a estória tenho a mania de sentir o cheiro e a textura do papel. Também gosto de olhar a capa, a contracapa, a folha de rosto, os anúncios..... A Vampiro antigamente trazia na contracapa, e mais tarde nas últimas páginas internas, o resumo do próximo volume, atiçando a curiosidade do leitor para o mês seguinte.


 
A partir de um determinado momento, os volumes passaram a trazer na folha de rosto uma curiosa Advertência ao Leitor, alertando para o perigo à saúde causado pelo manuseio de livros usados.



Os editores não imaginavam que, quase 70 anos depois, aqueles mesmos exemplares continuariam sendo folheados por pessoas que consideram estes pequenos livrinhos um verdadeiro tesouro. Como eu, que espero conseguir, algum dia, completar os primeiros cem volumes da minha coleção – faltam 22!

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