terça-feira, 28 de julho de 2015

Na base do faz-de-conta

Luiz Artur Ferraretto

Nos anos 1970, alguns brinquedos garantiam aventuras e mais aventuras. Do Oeste dos Estados Unidos à África, eu podia ser o renegado Gerônimo, defendendo tribos apaches; o Cabo Rusty, sendo salvo pelo seu fiel cachorro Rin-Tin-Tin; ou um astuto guerreiro zulu a enfrentar os mais diversos perigos das selvas. Construía cidades com bloquinhos de madeira e todo tipo de geringonça com as peças de plástico do Polly, um lançamento da Fábrica de Brinquedos Estrela que fez a alegria das crianças daqueles tempos.

 
A inspiração vinha dos livros das bibliotecas do Instituto Cristo Rei e do Serviço Social da Indústria. Parte significativa das situações e das tramas vividas tinha origem nos gibis das editoras Abril, Ebal, RGE e Vecchi.
Não raro, minha vontade era voar como o Barão Vermelho em seu triplano. Faltavam, no entanto, as peças necessárias. Hoje, quatro décadas depois, sobrou esse avião cinza, verde e vermelho, construído tempos depois com os blocos restantes.


Outras vezes, em escala menor, criava aviões, navios e tanques de guerra, responsáveis por audazes ataques contras as tropas do Eixo. Lembro de pintar com canetinha bandeiras, de um lado, dos Estados Unidos, da Grã-Bretanha e da União Soviética. De outro, com certa má vontade, fazia as da Alemanha Nazista. As cidades, onde o terreno era disputado palmo a palmo como nas aventuras do Sargento Rock e da Companhia Moleza, vinham do Pequeno Engenheiro, um brinquedo produzido pela Xalingo.


Lá por 1976 ou 1977, caiu nas minhas mãos um livro que iria afetar as minhas brincadeiras: "Enterrem meu coração na curva do rio", de Dee Brown. Até hoje, no Super Fort Rin-Tin-Tin, montado ao lado da mesa de jantar, aqui em casa, os índios seguem vencendo os casacas azuis por mais que o Tenente Rip Master e o Cabo Rusty esforcem-se para manter o chefe apache prisioneiro.



Também em meados dos anos 1970, a Gulliver lançou uma série de brinquedos. O meu favorito era e segue sendo a África Misteriosa, uma aldeia com choças, paliçada, chefes e guerreiros. Eu tinha assistido a um seriado na TV Difusora que mostrava o cotidiano de um garoto até se transformar em um guerreiro zulu. Passava horas, me imaginando em meio à selva. Muitos anos depois, lembrei disto um pouco antes de pisar pela primeira vez em território africano, mesmo que fosse em Tanger, na parte árabe do continente. Viajei na memória por alguns instantes como agora, escrevendo este texto.





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