domingo, 3 de janeiro de 2016

Uma grande figura, muitos quadrinhos, um fanzine e O Sombra

Luiz Artur Ferraretto

Lá por 1984 ou 1985, um colega de faculdade, colecionador de gibis como eu, me contou sobre um sujeito que sabia tudo de quadrinhos, publicava um fanzine e era dono de uma empresa de fotogravura. Já tinha ouvido falar dessas publicações artesanais mimeografadas ou em xerox, mas nunca tinha posto a mão em uma. Fiquei curioso, pedi o endereço e, na semana seguinte, fui até o prédio na Doutor Flores, no centro de Porto Alegre, onde no térreo funcionava uma loja de moda infantil, a Saci. Cheguei em frente a um balcão e pedi para falar com o "seu" Frederico Jorge Barwinkel. Um cara bem magro, com uns 50 e tantos anos, me atendeu e, quando falei sobre o fanzine, abriu um baita sorriso e pediu para deixar aquela coisa de "seu" e de "senhor" de lado.
Conversamos muito naquela tarde sobre quadrinhos e sobre o assunto do qual, com extrema picardia, o Barwinkel era um mestre: sacanagem. Ri muito com ele e comecei a comprar o fanzine d'o Grupo Juvenil de Porto Alegre, homenagem à sua revista favorita, "O Globo Juvenil". Um dia, ele me contou que a publicação, toda feita com trabalhosas montagens, era uma espécie de promessa de quando completara 50 anos.



Uma das coisas de que eu mais gostava era ver o Barwinkel colorindo com giz de cera detalhes das capas em xerox, como nesta, na qual aparece um de seus personagens prediletos, O Sombra.



Aliás, foi graças ao Barwinkel que conheci aquela famosa versão do Sombra radiofônico na voz de Saint-Clair Lopes, gravada por acaso de um programa do antigo Projeto Minerva.


No verão, o Barwinkel transferia-se para Tramandaí, onde, religiosamente, batia ponto no serviço de alto-falantes do "seu" Dario Kras Borges, figura conhecidíssima no litoral norte gaúcho. Em 1988, fazendo cobertura de praias para a Gaúcha, várias vezes bati longos papos com ele, sempre acompanhados de uma caipirinha (ou de muitas). A foto foi tirada por um colega de Zero Hora, mas na inseparável máquina fotográfica do próprio Barwinkel, que me deu uma cópia, tempos depois, com a identificação no verso.



O tempo passou. Comecei a me dividir entre um monte de coisas, enquanto virava professor, pesquisador, sei lá mais o quê. Um dia me dei conta que não via o Barwinkel há anos. Em uma folga, passei no edifício que ainda leva o sobrenome da família dele. Fiquei sabendo, então: ele estava doente e internado em um hospital. Dias depois, um amigo me contou, quase sem querer, que o Barwinkel havia falecido. Esta postagem e outras mais são uma tentativa pequenininha de reparar aquele distanciamento de anos.

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