domingo, 7 de fevereiro de 2016

Saudades do Tangos e Tragédias

Elisa Kopplin Ferraretto
Luiz Artur Ferraretto

Era quase automático: no fim de dezembro ou início de janeiro, sempre que possível, já íamos nos agendando. E comprávamos os ingressos para a temporada anual de Tangos e Tragédias no Theatro São Pedro. Sempre para a quinta ou sexta fila, evitando um "chamamento voluntário" ao palco para dançar o Copérnico. Não que seja lá uma performance difícil: "Cê não pode mexer com as pernas. Cê não pode mexer com as mãos.". Parecia que era eterno, mas algo a sempre surpreender os vivos levou o Maestro Pletskaya em 7 de fevereiro de 2014, deixando tanto seu parceiro, Klaunus Sank, quanto nós, por aqui, bem longe do paraíso dos artistas da Sbórnia. Coisas da vida. No entanto, tão vão sair da memória aquelas noites, quando o espetáculo terminava em frente ao teatro, na Praça da Matriz, com Nico Nicolaiewsky e Hique Gomes regendo os maiores "bahs" do mundo.


Dias depois da morte de Nico Nicolaiewsky, o jornal Zero Hora publicou este artigo, assinado por um de nós, mas que expressa o sentimento de ambos. De fato, nós achamos que se trata da saudade de milhares de fãs.



domingo, 3 de janeiro de 2016

Uma grande figura, muitos quadrinhos, um fanzine e O Sombra

Luiz Artur Ferraretto

Lá por 1984 ou 1985, um colega de faculdade, colecionador de gibis como eu, me contou sobre um sujeito que sabia tudo de quadrinhos, publicava um fanzine e era dono de uma empresa de fotogravura. Já tinha ouvido falar dessas publicações artesanais mimeografadas ou em xerox, mas nunca tinha posto a mão em uma. Fiquei curioso, pedi o endereço e, na semana seguinte, fui até o prédio na Doutor Flores, no centro de Porto Alegre, onde no térreo funcionava uma loja de moda infantil, a Saci. Cheguei em frente a um balcão e pedi para falar com o "seu" Frederico Jorge Barwinkel. Um cara bem magro, com uns 50 e tantos anos, me atendeu e, quando falei sobre o fanzine, abriu um baita sorriso e pediu para deixar aquela coisa de "seu" e de "senhor" de lado.
Conversamos muito naquela tarde sobre quadrinhos e sobre o assunto do qual, com extrema picardia, o Barwinkel era um mestre: sacanagem. Ri muito com ele e comecei a comprar o fanzine d'o Grupo Juvenil de Porto Alegre, homenagem à sua revista favorita, "O Globo Juvenil". Um dia, ele me contou que a publicação, toda feita com trabalhosas montagens, era uma espécie de promessa de quando completara 50 anos.



Uma das coisas de que eu mais gostava era ver o Barwinkel colorindo com giz de cera detalhes das capas em xerox, como nesta, na qual aparece um de seus personagens prediletos, O Sombra.



Aliás, foi graças ao Barwinkel que conheci aquela famosa versão do Sombra radiofônico na voz de Saint-Clair Lopes, gravada por acaso de um programa do antigo Projeto Minerva.


No verão, o Barwinkel transferia-se para Tramandaí, onde, religiosamente, batia ponto no serviço de alto-falantes do "seu" Dario Kras Borges, figura conhecidíssima no litoral norte gaúcho. Em 1988, fazendo cobertura de praias para a Gaúcha, várias vezes bati longos papos com ele, sempre acompanhados de uma caipirinha (ou de muitas). A foto foi tirada por um colega de Zero Hora, mas na inseparável máquina fotográfica do próprio Barwinkel, que me deu uma cópia, tempos depois, com a identificação no verso.



O tempo passou. Comecei a me dividir entre um monte de coisas, enquanto virava professor, pesquisador, sei lá mais o quê. Um dia me dei conta que não via o Barwinkel há anos. Em uma folga, passei no edifício que ainda leva o sobrenome da família dele. Fiquei sabendo, então: ele estava doente e internado em um hospital. Dias depois, um amigo me contou, quase sem querer, que o Barwinkel havia falecido. Esta postagem e outras mais são uma tentativa pequenininha de reparar aquele distanciamento de anos.